15 segredos dos bons alunos
As boas notas não aparecem por obra e graça divina. Basicamente, a ‘receita’ é muito trabalho e espírito de persistência. Desvendamos, a seguir, os trunfos dos bons alunos.
1– Sabem porque estudam
Ninguém se esforça sem um objetivo, e para a maioria das pessoas estudar é chato. Passada a novidade de já sabermos ler, que é excitante, a partir daí é sempre montanha abaixo. Mas dê-lhe um objetivo, para não viverem no vazio. Claro que para alguém com 13 anos, ser adulto e estudar para ganhar a vida e ser médico ou advogado ou eletricista quer dizer muito pouco. Se lhes perguntar o que é que pensam fazer aos 18 anos, a resposta será provavelmente ‘ator’, ou ‘jogador de futebol’ ou ‘corredor de tunning’ mas de qualquer maneira, explique que mesmo para ser um bom corredor de tunning convém não ser ignorante.
2 – São organizados
Ser organizado nem sempre é ter tudo muito certinho e arrumadinho em pastas e sublinhadinho a azul-bebé e amarelo-limão: é saber que tipo de organização combina com a nossa cabeça. Há excelentes alunos aparentemente desorganizadíssimos. Mas geralmente, o maior problema quando se tem 12 ou 13 anos é incapacidade de programar as coisas: primeiro porque de facto nada daquilo lhes interessa muito, e o cérebro naturalmente se recusa a gastar muita energia com aquilo que não vê como essencial, e depois porque a maioria não tem hábitos de planeamento. Não complique ainda mais: faça um calendário grande de parede onde possam assentar os dias dos testes e habitue-os a estudar com antecedência para não aparecerem verdes de véspera a dizer: “Socorro, amanhã tenho teste de matemática!”
3 – Estabelecem uma rotina
O melhor é fazer os trabalhos assim que se chega a casa: está-se mais fresco e fica-se logo despachado. Mas verifique o que funciona melhor com ele: há crianças que preferem relaxar primeiro, ver um bocadinho de televisão ou jogar 15 minutos de computador antes de fazer os trabalhos. O melhor é fazê-los sempre à mesma hora, e sem a televisão ligada.
4 – Fazem resumos
Estudar não é ficar imenso tempo a olhar para o livro com os olhos em alvo à espera que o ponteiro do relógio decida mexer-se. Ensine a sublinhar as partes mais importantes, resumir por palavras dele, treinar a memória. Mostre como se usa um dicionário, como se pode usar a ‘net’ (se tiver) e quem pode ajudar se tiver uma dúvida.
5 – Não têm medo de falhar
Os bons alunos sabem que ter uma nota mais baixa de vez em quando é tão normal como tropeçar quando se vai a andar, e conseguem usá-la para perceber o que está mal: afinal, sabem usar um passado de boas notas para saber que vão ser capazes de conseguir.
6 – Não têm medo de se esforçar
Curiosamente, não ter medo de esse esforçar está ligado a não ter medo de falhar: para ter boas notas, temos mesmo que mergulhar na matéria. Estudar tem de dar trabalho, mas depois, ter uma boa nota é compensador: ensine-o a sentir-se orgulhoso do seu trabalho. Elogie sempre que ele tiver uma boa nota, não tome a coisa como a sua obrigação. Elogie também o esforço, quando houver, mesmo que ele não tenha chegado à positiva. De vez em quando, principalmente quando não é esperado, um presentinho também é bem-vindo e pode funcionar como um incentivo.
7 – Não deixam arrastar as dificuldades
Não o meta logo na explicação, principalmente quando eles já estão desmotivados. Mas há disciplinas onde, se a pessoa perde o pé, já não consegue andar para a frente. Por isso, convém estar atento e pedir ajuda logo que se levanta uma dificuldade que se pode resolver com uma ou duas explicações, para não deixar acumular. Mas cuidado com as muletas: ‘andar na explicação’ pode ser uma ajuda preciosa mas muitas vezes transforma-se numa muleta. Além disso, retira-lhe tempo precioso para fazer outras coisas.
8 – Conseguiram dar a volta ao estereótipo
Ser bom aluno, às vezes, é um estigma: graças à ‘dor de cotovelo’ nacional, ainda achamos que são marrões, chatos, e snobes. Se tiver a sorte de uma criança dotada, tente preservá-la da inveja e não deixe que os outros façam comentários destes, e sobretudo não deixe que ela pense isso de si própria. Como sabe quem já leu o ‘Harry Potter’, há muitas adolescentes que se acham feias e compensam sendo boas alunas: não descure a parte visual, tão importante para quem está a crescer. Vá com elas comprar roupa bonita (hoje já nem sequer é preciso que seja cara), incentive-as a praticar algum exercício de que gostem, e, se for preciso, leve-as ao nutricionista.
9 – Gostam de livros
Uma pessoa que lê bem é uma pessoa que pensa bem, porque tem as palavras com que o fazer. Por isso habitue-o a ler desde pequenino. E desde pequenino não é desde que aprende a ler, é desde consegue olhar para um livro. Isto não é o trabalho da escola, porque a escola não ensina a gostar de ler, ensina apenas a ler. Nada do que é obrigatório nos dá prazer. Se os livros forem apenas os livros da escola, ele nunca há de aprender que bom que é descobrir o que os ‘Cinco’ fizeram ou seguir a vassoura do Harry Potter. Se lhe calhou na rifa um ‘informático’ mais dado aos jogos de consola do que às vassouras voadoras, tente aliciá-lo com livros sobre coisas que lhe interessem: animais, surf ou computadores. É melhor que ele leia qualquer coisa de que goste – mesmo que não seja Camões -, do que nada. Claro, muitas vezes, a dificuldade é que a nossa vida não está para o ritmo calmo dos livros, que parece pertencer a outro tempo. Os livros exigem-nos que paremos, que nos sentemos para pensar e para sonhar. Faça o possível para que o seu filho ainda seja capaz de ‘respirar’ dessa maneira.
10 – Conseguem sonhar
Ele quer ser baterista? Não deite imediatamente as mãos à cabeça a gritar “Ai meu querido filho nem penses, não me desgastei estes anos todos para dares em artista como o teu tio Jeremias, vais mas é ser vendedor de imobiliário como o teu padrinho.” Há uma idade em que eles querem ser bateristas num mês, cientistas da NASA no seguinte, e acumularem com vulcanólogos e diretores de fábricas de chocolate. Além disso, na adolescência querem todos ser atores: os adolescentes são naturalmente narcisistas, e ser ator corresponde ao sonho de terem uma audiência inteira a dar-lhes a atenção que eles querem. Por outro lado, a maioria vive fechada na escola ou em casa e não tem grande noção de como o mundo funciona e das profissões que pode de facto escolher. Não lhes corte imediatamente as asas: deixe-os sonhar, mas ao mesmo tempo vá deixando que eles tenham contacto com pessoas de várias áreas, para que tenham uma ideia real das hipóteses que podem escolher.
11 – Têm imaginação
O nosso mundo valoriza acima de tudo a capacidade de ganhar muito dinheiro rapidamente, mas não é isso (ou enfim… só isso…) que nos faz felizes. É uma mensagem difícil de contrariar, até porque também ninguém quer que as crianças passem fome quando crescerem, coitadinhas, mas é importante mostrar que isso não é o mais importante nesta vida. É fundamental desenvolver-lhes a imaginação e a capacidade de sonhar, é fundamental dar-lhes colo mesmo quando eles já não nos cabem no colo, porque é isso que nos faz felizes. E ninguém é um bom aluno se for infeliz.
12 – Conhecem-se a eles próprios
Ninguém é bom a tudo, toda a gente tem pontos mais fracos e mais fortes. Ensiná-lo a saber qual é o seu tipo de inteligência, quais são os seus talentos, e em que área é que será mais feliz, poupa muitas desilusões futuras. Qualquer pessoa gosta de cantar, mas nem toda a gente vai concorrer aos ‘Ídolos’… Por outro lado, saber que é bom em alguma coisa ajuda a superar um fracasso, ajuda a fazer o raciocínio do tipo: “se eu sou suficientemente esperto para ter uma boa nota a História, com um bocadinho de trabalho também posso ter boa nota a matemática.” Ensine-lhe que tudo é uma questão de esforço e de organização.
13 – Treinam o coração
Enfim, nem todos os bons alunos são boas pessoas, mas precisamente para que o cérebro não ocupe o lugar do coração é que é importante falar nisto. O coração é um músculo: também se treina. Infelizmente, a nossa maior preocupação é que eles sejam bons alunos, e nunca nos preocupa que sejam boas pessoas, desde que não andem por aí a bater a ninguém. Como sabem as mães que já experimentaram, ensinar a ser boa pessoa é um trabalho muito mais duro que ensinar matemática. Pôr-se no lugar dos outros exige imaginação, pensar nos outros exige autocontrole, e poucas crianças conseguem fazê-lo. Claro que não é treiná-los para Madre Teresa nem pregar-lhes moral, mas habituá-los suavemente a pensar nos outros: pode começar já com os irmãos. É muito mais difícil aprender a tratar bem os irmãos do que mandar brinquedos para os pobrezinhos da paróquia.
14 – Os pais entram na escola
Esteja presente nas reuniões, saiba o que se passa, conheça os professores. Muitas vezes, as crianças são completamente diferentes na escola e em casa, e é engraçado ver até que ponto temos um filho simpático e inteligente e se calhar nunca tínhamos dado por isso…
15 – Têm tempo mesmo livre
Tempo livre não é andar no futebol, no ballet, na natação, nos computador, no inglês… Isso pode dar prazer, mas tempo livre é tempo livre mesmo, e para se ter a cabeça suficientemente descansada para ser bem utilizada é preciso tempo para não pensar em nada. Além disso, a vida não é só a escola: ele tem de ter tempo para pensar, para namorar, para jogar jogos de consola, para ler livros idiotas, para ver a telenovela, para fazer asneiras, para passear o cão, para aprender ponto cruz, para aprender a cozinhar, para ir a casa da avó, para se aborrecer. É em casa que aprendemos a viver, não na escola. Aceite-o como ele é.
Uma boa nota é ‘boa’ relativamente à criança a quem se aplica. Há quem seja espetacular a ciências e tenha mais dificuldade em juntar três palavras, e quem seja um poeta em potência e quando lhe apresentam uma equação, ‘bloqueia’, como os computadores… Chegar à positiva geralmente é sempre possível, mas tudo depende daquilo que aquela criança, esticada, consegue dar. Aliás, mesmo em termos de futuro, nem todos têm de ser médicos ou juristas, advogados ou gestores de empresas. Atualmente há imensas carreiras que se pode ter, e as mais produtivas nem são necessariamente as tradicionais.
Por Catarina Fonseca/Activa